Traição
- Então, acho melhor você falar a verdade.
- Querido, por favor.
- Não tente me enganar. Está claro que você está apaixonada por outro.
- Não é bem assim.
- Eu vou te ensinar uma coisinha prática sobre relacionamentos: nunca diga “não é bem assim”. Isso acaba por te denunciar.
- É tão estranho.
- E por acaso você achou que isso fosse normal? Claro que é estranho!
- Você não está sendo compreensível.
- Minha mulher diz que está apaixonada por outro e, depois, ainda fala que eu não sou compreensível. Diga o nome desse salafrário!
- Isso vai mudar o quê?
- Diga!
- Rogério.
- Rogério? É algum colega do seu trabalho?
- Não
- Um amigo do curso de espanhol?
- Também, não.
- Um milionário que você conheceu em um cruzeiro pelas Bahamas?
- É óbvio que não.
- Afinal, onde você conheceu esse traste?
- Aqui em casa.
- Como?
- Por favor, eu não quero mais falar sobre isso!
- Ah, mas agora vai ter que me contar tudo.
- Ele mora aqui.
- Você enlouqueceu? O único homem nesta casa sou eu!
- Mas ele não é um homem?
- Então quer dizer que a Dona Maricreuza, na verdade, chama-se Rogério?
- Não. Ele não é mulher, nem homem.
- Você enlouqueceu?
- Talvez. Estou apaixonada por um objeto: o abridor de latas.
- Como?
- É isso mesmo que você ouviu. Eu amo o abridor de latas.
- O que deu em você?
- Não sei. Começou de repente. Por que as pessoas devem se apaixonar só por homens e mulheres?
- Porque é normal!
- Isso é ultrapassado. Sou uma mulher moderna.
- Você por acaso se excita com ele?
- Muito. Aliás, a minha vida sexual com o Rogério é muito melhor do que com você!
- Definitivamente, você não está bem.
- Saiba que nunca me senti tão amada e realizada. Ele me escuta e não faz perguntas idiotas. Nunca disse que eu era louca.
- Eu aceito tudo. Pode me trocar por um homem, uma mulher, um travesti. Agora, por um abridor de latas, não!
- Você é um retrogrado. Ontem, eu li que uma mulher na Alemanha casou-se com um desentupidor de pia. Isso é normal, meu bem. Hoje em dia podemos nos apaixonar por objetos.
- Mas isso eu não aceito!
- Vai fazer o quê? Procurar um juiz e pedir divórcio?
- Não. Vou te dar uma vida melhor.
- Como assim?
- Vou jogar o abridor de latas fora. A partir de hoje, só entra nessa casa comida natural!
- Querido, por favor.
- Não tente me enganar. Está claro que você está apaixonada por outro.
- Não é bem assim.
- Eu vou te ensinar uma coisinha prática sobre relacionamentos: nunca diga “não é bem assim”. Isso acaba por te denunciar.
- É tão estranho.
- E por acaso você achou que isso fosse normal? Claro que é estranho!
- Você não está sendo compreensível.
- Minha mulher diz que está apaixonada por outro e, depois, ainda fala que eu não sou compreensível. Diga o nome desse salafrário!
- Isso vai mudar o quê?
- Diga!
- Rogério.
- Rogério? É algum colega do seu trabalho?
- Não
- Um amigo do curso de espanhol?
- Também, não.
- Um milionário que você conheceu em um cruzeiro pelas Bahamas?
- É óbvio que não.
- Afinal, onde você conheceu esse traste?
- Aqui em casa.
- Como?
- Por favor, eu não quero mais falar sobre isso!
- Ah, mas agora vai ter que me contar tudo.
- Ele mora aqui.
- Você enlouqueceu? O único homem nesta casa sou eu!
- Mas ele não é um homem?
- Então quer dizer que a Dona Maricreuza, na verdade, chama-se Rogério?
- Não. Ele não é mulher, nem homem.
- Você enlouqueceu?
- Talvez. Estou apaixonada por um objeto: o abridor de latas.
- Como?
- É isso mesmo que você ouviu. Eu amo o abridor de latas.
- O que deu em você?
- Não sei. Começou de repente. Por que as pessoas devem se apaixonar só por homens e mulheres?
- Porque é normal!
- Isso é ultrapassado. Sou uma mulher moderna.
- Você por acaso se excita com ele?
- Muito. Aliás, a minha vida sexual com o Rogério é muito melhor do que com você!
- Definitivamente, você não está bem.
- Saiba que nunca me senti tão amada e realizada. Ele me escuta e não faz perguntas idiotas. Nunca disse que eu era louca.
- Eu aceito tudo. Pode me trocar por um homem, uma mulher, um travesti. Agora, por um abridor de latas, não!
- Você é um retrogrado. Ontem, eu li que uma mulher na Alemanha casou-se com um desentupidor de pia. Isso é normal, meu bem. Hoje em dia podemos nos apaixonar por objetos.
- Mas isso eu não aceito!
- Vai fazer o quê? Procurar um juiz e pedir divórcio?
- Não. Vou te dar uma vida melhor.
- Como assim?
- Vou jogar o abridor de latas fora. A partir de hoje, só entra nessa casa comida natural!