sexta-feira, novembro 25, 2005

História de casamento

Conheceram-se numa festa de amigos em comum. Ele, advogado. Ela, arquiteta. A apresentação foi sucinta – “fulano, essa é a fulana” – mas foi o suficiente. Rapidamente iniciaram uma daquelas conversas que parecem não ter hora para terminar. Sentiram um magnetismo imediato, permitiram-se intimidades. Ele, um escritor amador. Ela, uma amante insaciável.
Marcaram de se encontrar outras vezes. Num piano-bar no Leblon, ela lhe revelava seu fascínio por Art Noveau, enquanto ele afrouxava o nó da gravata para lhe confidenciar um poema. Sucumbiram ao inevitável. Apaixonaram-se.
Namoraram por dois anos e meio. Até que numa noite de Sábado, após uma série de reflexões desconexas, ele a convidou para jantar. Escolheu um restaurante sofisticado na Lagoa. Ela colocou o melhor vestido, parecendo adivinhar o desfecho daquela noite. Ligou para algumas amigas: “É hoje!”. Ele pediu uma garrafa de Prosecco italiano – da mesma marca do que beberam na festa em que se conheceram – e os olhos dela marejaram. Ele não resistiu e a pediu em casamento. Ela sequer reuniu forças para hesitar.
Ela escolheu a data, a igreja, os convidados. Bordaram toalhas com suas iniciais. Compraram enxoval, mobília, quadros – réplicas de Portinari e Di Cavalcanti, seus favoritos O apartamento em Ipanema – presente de casamento dos pais dela – foi decorado com apuro. Nenhum detalhe poderia passar despercebido e o grande dia se aproximava.
Enfim, chegou o dia do casamento. A igreja repleta de convidados. Todos os pormenores da festa – a realizar-se no salão nobre de um dos mais conceituados hotéis do Rio de Janeiro – já haviam sido repassados. A cerimônia fora marcada para às 17 horas e já passava das 17:30 e ninguém tinha notícias dele.
Às 18:00 horas – a noiva, meticulosamente, programara-se para um pontual atraso de uma hora – estaciona na porta da igreja uma limousine prata. Ela desce linda, maquiagem irretocável, vestido desenhado por famoso estilista da cidade. Todos os fotógrafos a postos. Mas até então, nenhum sinal do noivo.
Já eram quase 19:00 horas quando ele apareceu. O pai dela tentou puxar-lhe pelo braço, os olhos fumegantes de cólera, mas ele desvencilhou-se com uma destreza inabitual. Com o rosto lívido e a voz incrivelmente serena, anunciou a todos os convidados que não haveria cerimônia alguma, mas que a programação da festa seria mantida. Era uma festa de casamento, mas sem casamento.
O pai dela – cardíaco e hipertenso – tentou agredi-lo, mas foi contido pelos convidados, enquanto a mãe, aos prantos, soluçava e espinafrava o quase genro: “Sempre lhe disse... minha filha... que os advogados não prestavam... e que os escritores... esse bando de doidivanas... são todos uns irresponsáveis!”. Os padrinhos de casamento – os mesmos amigos em comum que lhes apresentaram na bendita festa, do bendito Prosecco – pareciam desconcertados.
Mas para surpresa de todos os presentes, ela decidiu-se a ir a sua própria festa de casamento, mesmo não tendo havido casamento. Os convidados, como não poderia ser diferente, ávidos por uma “boca livre”, logo aprumaram-se na direção do salão, que ficava a menos de 15 minutos do local. E o motorista da limousine prata, embora um tanto impaciente – ainda tinha mais duas noivas para transportar naquela noite – aproveitou para dar uma carona aos quase casados até a porta do hotel, já que ainda restavam 20 minutos para se encerrar o período de aluguel do veículo.
Música ao vivo, buffet, um bolo de três andares e... Prosecco para todos os convidados. Fotos do casal eram exibidas em um telão imenso, já que ninguém havia se lembrado de avisar aos responsáveis pelo cerimonial que não havia tido casamento algum. A música favorita dos noivos – ainda eram noivos! – era tocada a exaustão, enquanto as pessoas dançavam e nem mais se lembravam que não havia tido casamento.
Até que foi anunciada a valsa dos noivos. Um clarão abriu-se no salão e os convidados pareceram recuperar temporariamente a consciência acerca dos últimos acontecimentos. Parentes entreolharam-se. Ouviu-se os primeiros acordes.
Compelidos por uma atração inexplicável, aproximaram-se. Estacionada na frente dele, mirou-lhe no fundo dos olhos. Ele, compungido. Ela, resignada. Foi quando que, inesperadamente, num movimento brusco, ela desferiu-lhe uma bofetada. A aliança, que ainda ostentava no anelar da mão direita, provocou-lhe um lanho na face. Ele, permissivo. Ela, realizada. E valsaram pelo resto da noite, que só terminou quando se lembraram que tinham vôo marcado para lua de mel: a lua de mel do casamento que nunca houve.

P.S.: Os nomes dos personagens foram mantidos em sigilo, por se tratarem de pessoas públicas que gozam de boa reputação na cidade do Rio de Janeiro.

Justamente, agora?

21:45. Um casal sozinho em um apartamento na Tijuca

- Aí mesmo. Não pára.
- Preciso te falar uma coisa
- Eu não acredito! Mas, agora?
- Estou com um peso na consciência.
- Depois você me fala. Por favor, continua.
- Não dá. Estou me sentindo estranho.
- Droga, então fala logo.
- Eu não gosto de Godard!
- O quê? Você parou tudo pra me dizer isso?
- É que ...
- Você está brincando.
- Não, é sério. Eu menti quando disse que gostava de Godard.
- O que eu quero dizer é que você não deveria ter parado pra me contar uma besteira dessas!
- Mas me lembro que quando eu disse que tinha visto todos os filmes, você ficou encantada. Eu sabia que você gostava de Godard, e falei isso só pra te impressionar.
- Isso não faz a menor diferença.
- Foi um truque barato de sedução. Eu pesquisei toda obra dele.
- Ah, benzinho, não ligo pra isso. Depois eu percebi o sujeito maravilhoso que você era.
- O sujeito maravilhoso que eu era. Agora, não sou mais, né?
- Ai, que besteira. Ah, amor, vamos colocar um ponto final nisso tudo?
- Tudo bem. Se quiser terminar o namoro, você tem toda razão.
- Eu não me referi a isso. Só quero colocar uma pedra nessa história.
- Mais ou menos como no desastre do Titanic?
- Seu bobo! Olha só, eu te adoro. Te acho inteligente, bonito, carinhoso, engraçado. Essa confissão não muda nada.
- Mas essa não era a confissão.
- Não?
- A confissão era que a vizinha loira do 302 também gosta de Godard.

domingo, novembro 20, 2005

Memória Fraca

Sexta-feira, 14:00. Tensão pré-sexual. Fim de semana à vista. Um torpedo no celular deflagra um diálogo inusitado. Torpedos se sucedem. Quase uma batalha digital.


- Oi, o que você vai fazer nesse sábado?
- Ainda não sei... algum convite especial?
- Que tal um chopinho na Lagoa?
- Claro! Ótima pedida...
- Passo então na sua casa às oito, combinado?
- Combinadíssimo! Posso te fazer só uma pergunta?
- Já sei... você quer saber se eu já terminei com ela, acertei?
- Mais ou menos... não era bem isso...
- Terminei sim, pode ficar despreocupada... agora eu sou todinho seu...
- Que bom... rs... mas posso fazer a pergunta?
- Claro!
- Quem é você?

segunda-feira, novembro 14, 2005

Problemas no relacionamento

Ipanema, 10:30, 8 meses de namoro.

- Amor ...
- Lá vem problema.
- Vamos?
- Já te falei que não tenho dinheiro pra ir a Nova York.
- Não é isso, bobinho. Eu quero ir à praia.
- Onde estão mesmo nossos passaportes?
- Para de ser chato! Você parece um velho. Por que você nunca vai à praia?
- Porque eu sempre tenho coisas mais importantes pra fazer. Hoje eu não posso perder o documentário sobre a vida das bactérias autotróficas do Ceilão.
- Não entendo porque você não gosta de praia.
- Eu adoro praia. O que eu não gosto é do sol, do mar e da areia.
- Mas, amorzinho, você precisa pegar um bronzeado.
- Você está louca? Vou perder meu status de doente. As pessoas podem nem mais me reconhecer na rua.
- Bobinho. Você não tem medo que eu fique sozinha?
- Não. Vai ter pelo menos cinqüenta mil pessoas te acompanhando.
- Você é muito engraçadinho. Qual o problema em ir à praia?
- Nenhum. O problema está em ficar lá.
- Então ótimo, irei sozinha. Deixa eu me aprontar.
- Tá bem, eu acho que vou. Mas essa praia de nudismo é muito longe?
- Nudismo? quem te disse que é uma praia de nudismo?
- Quem te disse que isso que você vestiu é um biquíni?

domingo, novembro 13, 2005

Sua conversa não adianta de nada.

A melhor frase da semana.

01:45, Bombar - Um menina inteligente resume perfeitamente o que acontece em uma boite. Ou seja, nenhuma frase espirituosa vai convencê-la a ficar com você:

" A mulher sempre sabe se vai ficar ou não com um cara, logo que ele se aproxima. O máximo que pode acontecer é ele estragar tudo."

segunda-feira, novembro 07, 2005

M.S.N. - Minha Secreta Namorada

MSN, 2:45 - Uma pessoa que não conheço me adiciona com o apelido de "anjinha_ secreta" (Não irei reproduzir os caracteres, seres amarelos, beijos flutuantes et cetera)


-Oiiiiiiiiiiiiiiiiiieeeeeeeeeeeeeeee
- Quem é você?
- ñ reconhece minha voz?
- Preciso colocar meu aparelho de surdez.
- hihihihihihi
- Diz logo quem é.
- Vc ñ sabe ler? Poww... eu sou anjinha secreta
- É, não sei ler. Por isso, sou escritor.
- huhahuh
- Eu disse escritor, não palhaço.
- hahahahaha
- Droga, vou ter que tirar meu nariz vermelho.
- hahahahahahahaha. Vc é mto engraçado
- Não sei porque te adicionei.
- Eu kero realizar tds os seus desejos. Vc ñ precisa saber kem sou
- Realizar meus desejos? Mas nem joguei a moedinha.
- Vou tirar minha roupa...
- Não faz isso! Os vizinhos estão olhando.
- Sou toda sua.
- Eu não sei nem quem é você.
- hj eu sou quem vc quizer
- Impossível.
- pq?
- Quem eu quero não escreve "quiser" com z

Anijinha_misteriosa não pode responder porque parece estar offline




Por dentro do fora

Uma mulher caminhando por Copacabana. Uma abordagem, talvez precipitada.

- Oi, por acaso seu nome é Marcele? (canastra)
- Por acaso não. (sucinta)
- Ah, mas então deve ser muito parecida porque... (insistente)
- Porque o que? Você é muito ingênuo... Pensa que não sei o que quer de mim? Que não percebi você atravessando a rua e vindo direto na minha direção? (objetiva)
- É que eu te achei linda demais e... (fajuto)
- E o que? (cortante)
- Talvez a gente nunca mais se veja, e para nos encontrarmos novamente só se você me der seu telefone. (repetitivo)
- Ah, me desculpe, mas isso eu não posso fazer não... (cínica)
- Mas por quê? (desnorteado)
- É que eu só tenho esse! Se eu te der como você vai falar comigo? (debochada)
- Ah, eu tô falando sério, droga! (impaciente)
- Eu também, ué. O que é que você queria que eu dissesse? (falsa)
- Vocês mulheres... eu aqui dando o melhor de mim e você tirando sarro com a minha cara... (compreensivo)
- Ah, deixa de ser bobo, eu tô só brincando. (sarcástica)
- Você é realmente muito bonita... Com certeza para fazer uma filha bonita desse jeito seus pais devem ser muito bonitos... (suicida)
- E realmente eram... (irônica)
- Ah, me desculpe. Faleceram? (atônito)
- Pior. Ficaram feios... (sádica)
- ... (resignado)

E o tempo esvaiu a beleza. E a paciência. Desistir às vezes é uma questão de bom senso.

domingo, novembro 06, 2005

Você me ama?

- Você me ama?
- Amo
- Quanto?
- Muito
- Quanto é muito?
- Muito é responder essa pergunta às três horas da manhã. Posso voltar a dormir?

sábado, novembro 05, 2005

Como responder a um homem que só fala besteira.

22:45. Cobal do Humaitá. Uma menina fala entusiasmada sobre o relacionamento sexual entre mulheres.

ELA: As mulheres são mais sensíveis.
EU: Por isso que preferem outras mulheres?
ELA: Claro, vocês só falam besteira.
EU: Você já ficou com uma mulher?
ELA: E você, já ficou?

Pano rápido.

Você não me é estranho?

Democráticos, 23:45. Há um grupo de três meninas, e uma delas começa a conversar comigo.

- Você não me é estranho.
- Que bom.
- Você vem sempre aqui?
- Não. Nunca.
- Sabia que te conhecia de algum lugar.

camisola

- Então, gostou do presente?
- Aquela camisola? Gostei.
- Mas eu não te mandei nenhuma camisola.
- Mas eu recebi uma camisola.
- Eu te mandei um vestido.
- Um vestido?
- Cláudia, não me engane. Quem te deu essa camisola?
- Ora, quem poderia ter dado?
- Meu Deus, você tem um amante. Ele te deu essa camisola.
- Não, não, eu não tenho nenhum amante.
- E quem mais te daria esse presente?
- Um homem que por acaso se chama Roberto.
- Roberto? Pois bem, o safado tem o meu nome.
- Não! Estou falando de você.
- Ora, não se faça de cínica!
- Olha, vou pegar o cartão pra desfazermos esse engano ... Eu não acredito!
- Nem eu. E pensar que foram dois anos de um relacionamento tão maduro.
- Não é isso! É você que tem uma amante.
- Como?
- Olha esse cartão: "Pra minha querida Isabel"
- Que cartão?
- Na certa, você se confundiu e, em vez de mandar a camisola pra aquela ordinária, mandou pra mim.
- Mas essa letra não é minha.
- Não é?
- Claro que não. Essa letra deve ser do seu amante que é um idiota e esqueceu seu nome.
- Pois saiba que se eu tivesse um amante ele não seria um idiota. Idiota é sua amante que escolhe uma camisola rosa, azul e verde.
- Se eu tivesse uma amante ela teria escolhido uma jóia.
- E pra mim você dá um vestido, canalha!
- Eu disse que ela escolheria, mas não que eu daria. Uma jóia é muito cara.
- Sei. Você compraria algo mais barato. Talvez uma camisola, seu safado.
- Espera um minuto, deixa eu ver essa caixa.
- Quer ver se foi embalada direitinho?
- Agora, entendi. Você não tem nenhum amante.
- Claro, você que tem.
- Nem eu. O presente foi mandado pro 405.
- Tem razão. Esses entregadores de hoje são uns incompetentes.
- Mas onde está o seu presente?

* * *
- Então, gostou do presente?
- Aquele vestido? Gostei.