CRÔNICA
O primeiro encontro acontece no Nova Capela. Sábado. 20:45
- De repente, você ficou pálida!
- Não é nada!
- Você está passando bem?
- Só preciso sair daqui!
- Mas a gente acabou de chegar!
- Lógico que não! A gente já está aqui há quase quatro minutos!
- É a minha camisa laranja, não é? Você detesta, laranja!
- Não, não. Eu nem reparei na sua camisa!
- Não? Eu gastei uma fortuna nessa camisa laranja, e você nem reparou!
- Pare com essa bobeira! Estou muito preocupada. Será que nós fomos vistos juntos?
- Meu Deus, você é casada e seu marido acaba de olhar para nós?
- Não. É pior!
- Você é casada e sua amiga acaba de olhar pra nós?
- Muito pior!
- Você é casada e sua amiga foi embora sem olhar pra nós?
- Eu não sou casada!
- Ah, então, está tudo bem!
- Claro que não! Já vi que você ainda não entendeu nada!
- Então, me explique por favor.
- Eu sou romancista!
- Não entendi!
- Eu sou romancista!
- Isso eu entendi. Não entendi por que você ficou tão angustiada com isso! Escrever não é vergonha pra ninguém!
- Mas, logo que chegamos aqui, você disse que era um cronista! Um cronista de humor, relativamente conhecido!
- Sim, não é ótimo? Eu escrevo e você escreve. Eu sou um cronista e você é uma romancista. Vamos nos dar muito bem!
- O problema é que a crônica é um gênero menor! Se algum dos meus amigos vir que estou saindo com você, estou perdida. Se um dos meus professores de mestrado me vir de mão dada com um cronista, serei motivo de chacota!
- Mas grandes escritores foram cronistas. Antônio Maria, Stanislaw Ponte Preta, Rubem Braga, Fernando Sabino, Machado de Assis, Drummond. O Verissimo é um dos maiores vendedores de livros do Brasil!
- Não interessa! A crônica não tem qualquer valor literário! Você já viu um cronista receber prêmios pelo que escreve? Aliás, eu acho que depois de hoje, eu nunca mais receberei nem mesmo uma menção honrosa. Você estragou a minha carreira!
- Mas há crônicas memoráveis!
- Eu fico imaginando a falta de criatividade dos cronistas. A mania terrível de encher o texto com pontos de exclamação!!! Frases diretas. E pensar nas reticências que vocês sempre colocam ...
- As pessoas gostam de ler crônicas. Eu mesmo tenho muitos leitores.
- É?
- Claro. Tem gente que até pergunta se sua história cotidiana não dá uma crônica! Isso significa que elas querem se ver nos textos! Elas valorizam a crônica!
- Esse papo é muito bonitinho, mas não posso me arriscar! Tenho uma reputação a zelar!
- Ai, ai, eu desisto Pode ir embora que não vou ficar magoado.
- Você entende, não é? Preciso manter o respeito de meus amigos intelectuais!
- Sim, claro. Pode ir.
- Só mais uma coisa: será que isso tudo não dá uma crônica?
- De repente, você ficou pálida!
- Não é nada!
- Você está passando bem?
- Só preciso sair daqui!
- Mas a gente acabou de chegar!
- Lógico que não! A gente já está aqui há quase quatro minutos!
- É a minha camisa laranja, não é? Você detesta, laranja!
- Não, não. Eu nem reparei na sua camisa!
- Não? Eu gastei uma fortuna nessa camisa laranja, e você nem reparou!
- Pare com essa bobeira! Estou muito preocupada. Será que nós fomos vistos juntos?
- Meu Deus, você é casada e seu marido acaba de olhar para nós?
- Não. É pior!
- Você é casada e sua amiga acaba de olhar pra nós?
- Muito pior!
- Você é casada e sua amiga foi embora sem olhar pra nós?
- Eu não sou casada!
- Ah, então, está tudo bem!
- Claro que não! Já vi que você ainda não entendeu nada!
- Então, me explique por favor.
- Eu sou romancista!
- Não entendi!
- Eu sou romancista!
- Isso eu entendi. Não entendi por que você ficou tão angustiada com isso! Escrever não é vergonha pra ninguém!
- Mas, logo que chegamos aqui, você disse que era um cronista! Um cronista de humor, relativamente conhecido!
- Sim, não é ótimo? Eu escrevo e você escreve. Eu sou um cronista e você é uma romancista. Vamos nos dar muito bem!
- O problema é que a crônica é um gênero menor! Se algum dos meus amigos vir que estou saindo com você, estou perdida. Se um dos meus professores de mestrado me vir de mão dada com um cronista, serei motivo de chacota!
- Mas grandes escritores foram cronistas. Antônio Maria, Stanislaw Ponte Preta, Rubem Braga, Fernando Sabino, Machado de Assis, Drummond. O Verissimo é um dos maiores vendedores de livros do Brasil!
- Não interessa! A crônica não tem qualquer valor literário! Você já viu um cronista receber prêmios pelo que escreve? Aliás, eu acho que depois de hoje, eu nunca mais receberei nem mesmo uma menção honrosa. Você estragou a minha carreira!
- Mas há crônicas memoráveis!
- Eu fico imaginando a falta de criatividade dos cronistas. A mania terrível de encher o texto com pontos de exclamação!!! Frases diretas. E pensar nas reticências que vocês sempre colocam ...
- As pessoas gostam de ler crônicas. Eu mesmo tenho muitos leitores.
- É?
- Claro. Tem gente que até pergunta se sua história cotidiana não dá uma crônica! Isso significa que elas querem se ver nos textos! Elas valorizam a crônica!
- Esse papo é muito bonitinho, mas não posso me arriscar! Tenho uma reputação a zelar!
- Ai, ai, eu desisto Pode ir embora que não vou ficar magoado.
- Você entende, não é? Preciso manter o respeito de meus amigos intelectuais!
- Sim, claro. Pode ir.
- Só mais uma coisa: será que isso tudo não dá uma crônica?