"As sobras de tudo que chamam lar"
- Vamos ter que recorrer a perguntas!
- Perguntas?
- É. Eu não identifiquei se esse livro de contos do Borges é meu ou seu. Quem conhecer o livro melhor será, a partir de agora, o verdadeiro dono.
- Então, pode me entregar logo.
- Não faz muito tempo, você achava que Borges era o atacante de algum time de São Paulo.
- Paraná.
- Dá tudo no mesmo.
- Não sabia que você era tão ruim em geografia. Antes de me perguntar qualquer coisa sobre escritores que tal aprender a diferença entre sul e sudeste?
- Foi por causa de suas piadinhas idiotas que nosso namoro terminou.
- Nosso namoro terminou por sua total falta de senso de humor.
- Isso é uma mentira. Eu sempre ri bastante. Ainda mais quando você usava essas camisetas e bermudas ridículas.
- Minhas roupas não são ridículas, são curtas. Há sempre uma vantagem em não possuir celulite.
- Você quer que eu dê exemplo de uma coisa realmente curta?
- É melhor a gente continuar ou não vamos terminar vivos.
- Ótimo. Me diz, então, qual é o principal assunto do conto “A forma da espada”
- Ambivalência.
- Como assim?
- Você não sabe o que é "ambivalência"? Não sei como namorei contigo por tanto tempo.
- O que quero dizer é que a maioria dos contos do Borges é ambivalente.
- Você tem uma visão muito restrita.
- Então faça você uma pergunta!
- Tá legal. Qual a última palavra da página sessenta e seis?
- Esse tipo de pergunta não vale.
- Claro que vale, é uma pergunta borgiana.
- Você está apelando
- Quem está apelando? Você ficou com quase todos os livros do Kafka
- Você sempre achou Kafka chato.
- Eu?
- Me disse que nunca terminaria de ler uma obra dele.
- Lógico, sempre estou relendo. Não terminarei nunca.
- Desculpa esfarrapada.
- Desculpa esfarrapada foi dada quando você ficou com o único Keats aqui de casa.
- É uma indenização. A primeira poesia que você fez pra mim, na verdade, roubou dele.
- Eu não roubei dele, eu me inspirei nele.
- Não sabia que plágio agora é chamado de inspiração.
- Deveria saber porque teu último conto foi todo inspirado em Clarisse Lispector.
- Eu não quero ficar discutindo com você. Vamos logo definir o que é de cada um?
- Impossível, você acha que todos os livros da estante te pertencem.
- Estou apenas sendo justa.
- Não sei de onde você tirou seu conceito de justiça.
- Por exemplo, achei um livro que é realmente seu. Tenho certeza que você vai fazer questão de ficar com ele.
- Oba, até que enfim você foi sensata. Mas calma aí, que livro é esse?
- Manual Esotérico de Emagrecimento.
- Perguntas?
- É. Eu não identifiquei se esse livro de contos do Borges é meu ou seu. Quem conhecer o livro melhor será, a partir de agora, o verdadeiro dono.
- Então, pode me entregar logo.
- Não faz muito tempo, você achava que Borges era o atacante de algum time de São Paulo.
- Paraná.
- Dá tudo no mesmo.
- Não sabia que você era tão ruim em geografia. Antes de me perguntar qualquer coisa sobre escritores que tal aprender a diferença entre sul e sudeste?
- Foi por causa de suas piadinhas idiotas que nosso namoro terminou.
- Nosso namoro terminou por sua total falta de senso de humor.
- Isso é uma mentira. Eu sempre ri bastante. Ainda mais quando você usava essas camisetas e bermudas ridículas.
- Minhas roupas não são ridículas, são curtas. Há sempre uma vantagem em não possuir celulite.
- Você quer que eu dê exemplo de uma coisa realmente curta?
- É melhor a gente continuar ou não vamos terminar vivos.
- Ótimo. Me diz, então, qual é o principal assunto do conto “A forma da espada”
- Ambivalência.
- Como assim?
- Você não sabe o que é "ambivalência"? Não sei como namorei contigo por tanto tempo.
- O que quero dizer é que a maioria dos contos do Borges é ambivalente.
- Você tem uma visão muito restrita.
- Então faça você uma pergunta!
- Tá legal. Qual a última palavra da página sessenta e seis?
- Esse tipo de pergunta não vale.
- Claro que vale, é uma pergunta borgiana.
- Você está apelando
- Quem está apelando? Você ficou com quase todos os livros do Kafka
- Você sempre achou Kafka chato.
- Eu?
- Me disse que nunca terminaria de ler uma obra dele.
- Lógico, sempre estou relendo. Não terminarei nunca.
- Desculpa esfarrapada.
- Desculpa esfarrapada foi dada quando você ficou com o único Keats aqui de casa.
- É uma indenização. A primeira poesia que você fez pra mim, na verdade, roubou dele.
- Eu não roubei dele, eu me inspirei nele.
- Não sabia que plágio agora é chamado de inspiração.
- Deveria saber porque teu último conto foi todo inspirado em Clarisse Lispector.
- Eu não quero ficar discutindo com você. Vamos logo definir o que é de cada um?
- Impossível, você acha que todos os livros da estante te pertencem.
- Estou apenas sendo justa.
- Não sei de onde você tirou seu conceito de justiça.
- Por exemplo, achei um livro que é realmente seu. Tenho certeza que você vai fazer questão de ficar com ele.
- Oba, até que enfim você foi sensata. Mas calma aí, que livro é esse?
- Manual Esotérico de Emagrecimento.
5 Comments:
huhauhauhuahua
Muitooo bom!
Gostei dessa mulher...esperta!
huahua
Beijokas
:o)
Qualquer semelhança é mera coincidência, né?!
Bjocas nos dois!!
a boa e velha alinetada feminina que não podemos escapar!
Muitoooooooooo bom!!!
Adorei o diálogo, muito bom!
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